AVES




AVES
As aves chamam atenção pela diversidade de espécies, capacidade de se adaptar ao meio modificado e dinãmica de suas populações.
 É possivel distinguir padrões de ocorrência para determinadas espécies, como, por exemplo, o falcão-peregrino, Falcus peregrinus, modificações ao longo dos anos nas populações de outras, como no casa da asa-branca, Patagioenas picazuro, e também identificar pressões e conflitos relacionados às aves nas áreas urbanas.
falcão pereguino

asa-branca

Este capítulo pretende avaliar a avifauna da cidade e suas características ecológicas.


                                           PROCEDIMENTOS

O método para as observações a campo constitui-se em caminhar pelos diferentes ambientes das áreas de estudo, com binóculos, registrando as aves vistas e ouvidas. Recentemente, as vocações de espécies florestais foram registradas com gravador gigitale microfone direcional. As observações ocorrem no período da manhã e totalizaram 1.425 horas. A utilização de redes ornitológicas foi uma metodologia complementar e segundária aplicada em apenas duas áreas.

                                      ANÁLISE DOS DADOS
Com o intuito de traçar um panorama da avifauna registrada nas diferentes áreas da cidade, as espécies foram classificada e agrupadas segundo algumas de suas características ecológicas. Estratégia esta que auxilia a compreensão dos mecanismos que regulam a dinâmica populacional no ambiente. Esse entendimento é dicisivo quando é necessário propor medidas que visam à conservação da fauna e flora nativas.
 As espécies foram agrupadas pelos tipos de ambientes onde ocorrem, segundo as informações obtidas da literatura. Com base nessas informações, e a fim de simplificar a análise, os diferentes ambientes foram categorizados da seguinte forma: áreas florestadas são as matas e matas segundárias; áreas-abertas, os campos, pastagens, gramados, plantações, jardins, cidades, brejos e varjões; áreas semi-abertas, as bordas da mata, capoeiras e cerrados; aquáticos, os lagos, represas e rios; e todos os tipos de área, todos os ambientes anteriores.
 A análise das aves segundo o hábito alimentar seguiu a classificação que considera o principal item alimentar: insetívoras (artrópodes), frugívoras (frutos), granívoras (sementes), carnívoras (vertebrados), picívoras (peixes), melacófagas (moluscos),  necrófagas (carniça), nectarívoras (néctar), onívoras (animais e vegetais) e filtradoras (pequenos organismos aquáticos).
 Quanto à sensibilidade às modificações antrópicas, as espécies de aves foram classificadas segundo as categorias altas, média e baixa.
 Curiosos são os registros de espécies florestais que, por vezes, são encontradas em plena área urbana. É o caso do gavião-pomba, Leucopternes lacernulatus, espécie ameaçada de extinção segndo o Ministério do Meio Ambiente e no Estado de São Paulo, encontrada recorrentemente nas zonas centrias e extremamente urbanizadas da cidade sempre nos meses de março e abril.

gavião-pomba

A Divisão da Fauna recebe indivíduos de gavião-pomba com plumagem caractéristica de imaturo, capturados em bairros centrais. Chegam apresentando ferimentos nas asas, frequentemente causados por choques contra edificações. Seriam necessários estudos específicos, mais uma vez, para compreendermos os motivos que levam uma espécie tipicamente florestal a se aventurar por áreas urbanas. Entretanto, considerando a maturidade dos indivíduos capturados, uma possível explicação poderia ser a busca por novos territórios. Esta necessidade obrigaria os indíviduos jovens a abandonar o território dos pais, arriscando-se na travessia da mancha urbana em busca de novas áreas florestadas para se estabelecerem. Durante essa jornada podem ocorrer acidentes, como o choque contra edifícios envidraçados.
 Outra espécie florestal que visita periodicamente os parques centrais é araponga, Procnias nudicolis, ave símbolo da Mata Atlântica e ameaçada de extinção.

araponga
  Há quatro anos consecutivos, a araponga visita o Parque Ibirapuera entre os meses de setembro e outubro, onde permanece por aproximadamente duas semanas. Neste período, foi observada alimentando-se dos frutos da figueira-benjamim, espécie exótica abundante no Parque, e que, por prosuzir frutos durante vários meses, é um importante recurso alimentar para as aves frugívoras no local.

Uma única espécie de cracídeo, Penelope obscura, o jacuguaçu, foi registrada em duas das áreas estudadas: o Parque CEMUCAM, que na realidade pertecence ao Município de Cotia; e a Fazenda Castanheiras, uma propriedade particular protegida, localizada na APA do Bororé-Colônia, zona sul. Ambas as áreas possuem remanhescentes de mata.


jacuguaçu

20% do total das aves registradas(57 espécies) estão associadas aos campos, pastagens, gramados, plantações, jardins, cidades, brejos e marjões, aqui consideradas como áreas abertas. Nesta categoria, destacamos uma espécie que colonizou recentemente o Município, a lavadeira-mascarada, Fluvicula nengeta, com seu primeiro registro na década de 90.

lavadeira-mascarada

 Quatro espécies associadasaos ambientes abertos:

  a rolinha, Columbina talpacoti

rolinha
o sanhaço-cinzento, Thraupis sayaca
sanhaço-cinzento
o tico-tico, Zonothrichia capensis
tico-tico
e a andorinha-de-casa-pequena, Pygochelidon cyanoleuca
andorinha-de-casa-pequena
estão entre as dez aves mais frequentes neste estudo, ouseja, observadas em 40 ou mais áreas.

Outras 48 espécies de aves(17 % do total) estão associadas tantos às áreas florestadas como às semi-abertar(bordas de mata, cerrados e capoeiras). Dentre elas, o pica-pau-verde-berrado, Veniliornis spilogaster, é uma espécie bem adaptada às verdes áreas da Cidade, sendo registrada em grande parte delas. Por outro lado, o inhambu-chintã, Crypturellus tataupa, foi registrada apenas no Parque Anhanguera.
pica-pau-verde-berrado

inhambu-chintã
 Treze por cento das aves (38 espécies) estão associadas às áreas abertas e também às semi-abertas. Uma das espécie que se enquada nessa nessa categoria, a asa-branca, teve sua população aumentada no Parque Ibirapuera na última década, se compararmos a frequencia de registros da espécie nos dois períodos amostrados. Em 1993, durante o levantamento realizado nesse Parque, a pomba-asa-branca foi registrada uma única vez, no mês de setembro, em um total de 47 incursões a campo ao longo do ano. Passado pouco mais de uma década, durante o levantamento de 2005, essa espécie foi registrada em 11 meses, refletindo um nítido aumento na sua frequencia de ocorrência. Outras três espécies de áreas abertas e semi-abertas estão entre as mais frequentes neste estudo:

o bentevi, Pitangus sulphuratus
bentevi
o tesourão, Eupetomena mancroura
tesourão
e a corruira, Troglodytes musculus
corruíra
As aves aquáticas correspondem a 11 % do total das espécies registradas. Entre elas, as duas espécies de garça:

a garça-branca-grande, Ardea alba
garça-branca-grande
e a garça-branca-pequena, Egretta thula
garça-branca-pequena
Podem ser facilmente observadas no lago do Parque Ibirapuera.

Durante os meses mais frios o números de garças aumenta nas margens do lago, tornand-se um belo atrativo na paisagem. O aumento populacional também pode ser observado para o irerê, Dendrocygna viduata, um gracioso marreco silvestre comum no lago.

irerê
 As aves que ocorrem exclusivamente em área semi-abertas correspondem a 8 % do total. Um exemplo é o maracanã-nobre, Diopsittaca nobilis,que, à semelhança da asa-branca, também teve um aumento na frequencia de ocorrência para o Parque Ibirapuera na última década.


maracanã-nobre
5 %  das aves (13 espécies) ocupam um amplo espectro de ambientes, desde áreas abertas até áreas florestadas. Dentre elas, destacamos:

 o urubu-de-cabeça-preta, Coragyps atratus


urubu-de-cabeça-preta
Espécie estigmatizada por sua aparencia e hábitos necrófagos, que, no entanto, possui valor ecológicos inquestionável. Bem adaptado ao ambiente urbano, o urubu habitou-se a utilizar sacadas e floreiras em edifícios para construção de ninhos, causando incomodo à população. A espécie está entre as mais frequentes nas áreas estudadas. Outro conflito é sua presença próxima às áreas aeroportuárias e o consequente prejuízo devido aos danos causados pelos choques contra aeronaves, além do risco de acidentes aéreos mais graves. Vale ressaltar que o problema de colisão envolve outras espécies de aves que, igualmente, frequentam áreas urbanas descampadas, como o quero-quero, Vanellus chilensis e as diferentes espécies de garças brancas, Egreta thua, Ardea alba e Bobulcu ibis, por exemplo.



quero-quero
O problema, segundo Serrano e colaboradors, é a ausência de saneamento básico e a presença de focos de atração de aves, como lixões nas Áreas de Segurança Aeroportuárias. A recomendação é de que haja planejamento das atividades próximas, além de monitoramento das populações de urubu e manejo da paisagem.
 Para finalizar a avaliação das aves segundo o tipo de ambiente de ocorrência em São Paulo, destacamos a maior diversidade de aves de ambientes florestais, em comparação com outros tipos de ambiente. Este resultado não é surpresa, uma vez que os ambientes florestais costumam ser os mais complexos e ricos.
  Chamamos a atenção também para a ocorrência de espécies florestais em parques urbanos, mesmo que por um breve período. Este fato ressalta a importância dessas áreas verdes como locais de passagem e descanso para as aves que se deslocam entre os fragmentos de mata.
 A conclusão final é que os 21% de matas existentes atualmente em São Paulo são, em grande parte, responsáveis pela biodiversidade registrada na cidade, sendo esta mais uma confirmação da necessidade de conservação de tais áreas.
 A saíra-sete-cores(Tangara seledon) vive em pequenos bandos, juntamente com outras espécie de saíras, nas matas contínuas e seus arredores. A fêmea tem cores mais desbotadas do que o macho.
saíra-sete-cores


Ave típica de áreas florestadas, o capitão-de-saíra (Atila rufus) é observado na região sul do Município de São Paulo, como nas APAs Capivari Monos e Bororé-Colônia.
capitão-de-saíra

Espécie de beija-flor muito comum, o tesourão (Eupetomena macroura) é caracterizado pela cuda comprida e bifurcada. Possui cabeça e pescoço azuis e plumagem verde-escura brilhante.
beija-flor

Vivendo em bandos, o canário-da-terra-verdadeiro(Sicalis flaveola) faz ninhos em cavidades naturais, ou aproveita os ninhos feitos por outros pássaros. Alimenta-se de sementes de gramíneas.
canário-da-terra-verdadeiro
Espécie de pequeno porte e muito comum na cidade, a andorinha-pequena-de-casa (Pygochelidon cyanoleuca) vive em bandos. Procura sua alimentação em vôos acrobáticos. Pode ser vista também pousada em fios da rede elétrica.

andorinha-pequena-de-casa
O bentevi-do-gado (Machetornis rixosa) caminha pelo chão em busca da alimentação que é essencialmente constituída de insetos, como grilos e gafanhotos.
bentevi-do-gado
Morucututu-de-barriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana) espécie que vive em matas altas e alimenta-se de pequenos mamíferos e pássaros.
morucututu-de-barriga-amarela
Espécie de hábito diurno, a buraqueira (Athene cunicularia) é facilmente observada em áreas abertas. Pousa ereta nos gramados ou em locais próximos a seus ninhos no chão.
buraqueira
Espécie de tamanho avantajado, o jacuguaçu (Penelope obscura) habita a mata alta e alimenta-se de uma grande variedade de frutos.
jacuguaçu

Ambientes aquáticos podem reunir diversas espécies de aves que se associam em bandos, especialmente nos horários mais quentes do dia, para descanso e higiene da plumagem.
 As aves insetívoras se utilizam de diferentes estratégias para obter seu alimento. 

As andorinhas e andorinhões por exemplo, são especializadas na captura de insetos em pleno vôo.
andorinha


andorinhão
Os  pica-paus, por sua vez, buscam os insetos nos troncos das árvores, utilizando ativamente o bico na exploração de orifícios.
pica-pau

O bentevi-do-gado, Machetornis rixosa, caminha nos campos e gramados à procura de insetos no solo. Outras, como os limpa-folhas, capturam insetos nas folhas das árvores.
limpa-folhas
bentevi-do-gado
Independente da maneira de se alimentar, todas elas acabam por controlar as populações de artrópodes e desempenhar assim o papel essencial no combate a pragas.
 As espécies frugívoras representam 15% do total de aves do Município. Nesta categoria estão as aves dispersoras de sementes no ambiente, auxiliando a disseminação de espécie da flora. Aves dispersoras, como araponga, Procnias nudicolis, o pavão-do-mato, Pyroderus scutatus, e o jacuguaçu, Penelope obscura, são necessárias para a manutenção de remanescentes florestais.
araponga
pavão-do-mato

Diferentemente do oservado para as aves insetívoras e onívoras, dentre as frutíveras houve predomíniode espécies com média sensibilidade (25 espécies) e também o maior número de espécies com alta sensibilidade às pertubações do meio. Como por exemplo a pomba, Patagioneas plumba, e o corocochó, Caponis cucullata, encontramos longe dos dominios urbanos.